O
assassino despista o crime. Esconde o canivete debaixo
da carroça e cinicamente corre para avisar a família.
Como, porém, explicar as manchas de sangue na roupa?
-
É que encontrei Albertina ferida de morte e ao
ampará-la me manchei de sangue... - dirá.
Todos
correm ao lugar do crime, Maneco à frente. Diz
uma testemunha: "Encontrei o cadáver de minha
sobrinha, deitada de costas, morta, com a garganta completamente
cortada, e as roupas todas ensangüentadas, uma perna
encolhida e a outra estendida, estando, o local do crime
e ao redor do cadáver, tudo ensangüentado.
Vi ainda que o lenço de Albertina, que trazia amarrado
na cabeça, estava a metro e meio de distância,
preso a uma raiz. O chão estava revolvido, como
sinal de ter havido luta. O pescoço tinha um grande
talho, tendo já parado a hemorragia" (A.B.BRAUN,
o.c., p.36).

Outra testemunha acrescenta: "Seu rosto estava sereno
e calmo como em vida, parecia uma Imaculada Conceição."
- Maneco, quem matou Albertina?, perguntam ao assassino.
- Foi um homem moreno, de barbas pretas, com chapéu
de palha dobrado na frente. - Para onde fugiu o assassino?
- Foi por ali, não deve andar muito longe: é
um homem que, de manhã, andou pela região
à procura de serviço...
Convidado
a ajudar a carregar o corpo, Maneco se desculpa alegando
não poder ver cena tão trágica e
vai embora.
A
comunidade de São Luís se agita. Era preciso
prender o assassino a todo custo. Apresentam-se 14 homens
a cavalo com espingardas, facões e armas de todo
tipo. Estão dispostos a tudo contanto que o assassino
seja preso. Maneco, montado num burro, armado com o revólver
do pai de Albertina, comanda a caçada. O passante
acusado por Maneco tinha calças cáqui, facão
à cintura, mala às costas, barba preta.
Alguém o teria visto?
João
Cândido ou João Candinho encontrou trabalho.
Agora capina a roça de quem lhe deu serviço
em Vargem do Cedro. Nem dá importância aos
gritos do grupo de cavaleiros. Estes, porém, o
cercam e prendem. João protesta, diz-se inocente,
chora, mas é inútil. Maneco confirma: -
Foi esse homem que matou Albertina!
João
foi amarrado e arrastado pelas estradas até São
Luís. De nada valeram seus protestos. Ainda hoje
há quem se emocione ao lembrar a cena de Candinho
olhando para os curiosos e dizendo como um Cristo manso
e inocente: - Não fui eu!
O
presumido assassino é arrastado para junto do corpo
da menina morta. Ele jura: - Nunca vi essa menina! Protesta
sua inocência. Em vão. João, amarrado
de mãos e pés, é encerrado num paiol,
pregam-se as portas e aí passa a noite. A polícia
deverá chegar amanhã...
Os
colonos, porém, começam a duvidar. Levantam
outras hipóteses: - Por acaso não seria
Maneco o assassino? Por que não?
Maneco
aparecia toda hora por perto da sala onde se velava o
corpo de Albertina. Não parava de ir e vir. Como
contam testemunhas, sempre que se aproximava, a ferida
do pescoço de Albertina vertia sangue. Não
seria um sinal?
Enquanto
o povo cismava, Maneco tramava sua fuga...
Dois
dias depois chegou o prefeito de Imaruí. Acalmou
a população e mandou soltar João
Candinho. Foi à capela, tomou um crucifixo e, acompanhado
por Candinho e outras pessoas, foi à casa do pai
de Albertina, o colocou sobre o peito da menina morta.
Mandou que João Candinho se ajoelhasse e, mãos
sobre o crucifixo, jurasse que era inocente. Dizem que
naquele momento o sangue da ferida parou de sangrar (A.B.BRAUN,
o.c., pp. 52-53).
Entretanto,
Maneco acabava de fugir.
A
reação foi instantânea: - Vamos pegá-lo!
Depois
de muitas andanças foi preso em Aratingaúba
a caminho de Imaruí. Preso, confessou o crime.
Aliás, confessou um outro crime cometido em Palmas,
onde matara um sargento. Tinha também matado um
homem em São Ludgero.
Maneco
Palhoça - ou Indalício Cipriano Martins
(conhecido também como Manuel Martins da Silva)
- foi levado para Laguna. Correu o processo. Foi condenado.
Levado para a penitenciária, depois de alguns anos
morreu. Na prisão comportou-se bem. Confessou ter
matado Albertina porque ela recusara ceder à sua
intenção de manter relações
sexuais com ela.